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A pandemia causada pela COVID-19 afetou a saúde mental de toda a população, especialmente a de profissionais da saúde que atuaram e atuam na linha de frente

 

Por Nycacia Florindo 31/01/2022

 

Desde  que   foram   registrados   os   primeiros casos de infecção pelo coronavírus, dentre as orientações das autoridades em saúde, estava  considerar o distanciamento social com isolamento aos que poderiam praticá-lo, pois o vírus se propaga através de gotículas e aerossóis no ar.  Conforme o  número de casos e de letalidade rapidamente aumentava, a medida se fez cada vez mais necessária para o controle de contaminações pelo vírus. Mas o tempo em isolamento se estendeu, causando incerteza, ansiedade, depressão, fobias sociais e outros indicadores de doenças subjacentes.

 

A sociedade passou a enfrentar, então, os impactos na saúde mental de toda a população, incluindo os trabalhadores da área da saúde que, atuando na linha de frente, sofreram com sintomas de depressão, ansiedade e estresse. É o que afirma o artigo Saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no contexto da pandemia por Covid-19 de Eder Dantas, publicado em 2021.

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Medo do contágio

 

O medo de ser infectado pelo coronavírus trouxe grandes implicações para o modo de vida da população. Como um dos sentimentos mais vivenciados, na percepção do público, impactou negativamente as rotinas dos afetados. 

 

Um estudo feito pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), no Rio Grande do Sul, avaliou a prevalência e os fatores associados à percepção do medo de ser infectado pelo coronavírus, através de um questionário on-line realizado entre 19 a 22 de abril de 2020, com pessoas de idade igual ou superior a 18 anos. Foram analisadas as variáveis: risco de ser infectado por COVID-19 na rotina atual (em escala de 1 a 10), parte do grupo de risco (sim ou não), entre outros fatores. Os resultados constataram que 64% dos entrevistados têm muito medo de se infectar pela COVID-19. 

 

Ainda de acordo com o estudo, diversas razões podem ter contribuído para tal receio, entre elas as informações propagadas pela mídia e divulgadas nas redes sociais sobre a ameaça de propagação do vírus, o elevado número de casos e de mortes em outros países e o fato de não existir vacina na época.

 

Profissionais da linha de frente

 

Um grupo que teve a saúde mental altamente afetada pelas consequências do coronavírus foi o de profissionais de saúde que, por estar na linha de frente do combate à COVID-19, lida diariamente com o medo de se infectar e infectar outras pessoas. A falta de equipamentos de proteção individual (EPI) e a sobrecarga de trabalho frente às suspeitas e casos confirmados de contaminação também contribuem para os efeitos na saúde mental da categoria. 

 

O cuidado com a saúde mental dos profissionais da área da saúde é, evidentemente, necessário, pois o estresse e o conflito emocional causados pela doença em questão trazem danos sérios ao bem-estar emocional dos trabalhadores.

 

Uma pesquisa realizada por pesquisadores da área de psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de Brasília em parceria com o Hospital Universitário de Brasília (HUB), avaliou médicos residentes em atuação durante a pandemia, nos meses de abril e junho. Os resultados sugerem que devido à ansiedade desses profissionais, 25% tem interesse em trocar de especialidade. Entre os sintomas de ansiedade citados, de forma moderada, por 41,7% dos participantes, os mais detectados foram a incapacidade de relaxar, o medo de que aconteça o pior e nervosismo.

 

Como medida para minimizar os impactos, um documento intitulado Guia de saúde mental pós pandemia no Brasil, contendo informações úteis para profissionais de saúde e para a comunidade em geral, foi elaborado por renomados especialistas. Além disso, o governo federal se propõe a financiar auxílio psicológico para os profissionais da área e, as informações completas como contatos disponíveis, formas de intervenção e abordagem  para casos menos ou mais graves  estão presentes no guia.

 

 

 

 

 

 

Referências

 

Schmidt, B., Crepaldi, M. A., Bolze, S. D. A., Neiva-Silva, L., & Demenech, L. M. (2020). Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Estudos de Psicologia (Campinas), 37, e 200063.

http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275202037e200063

 

Dantas ESO. Saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no contexto da pandemia por Covid-19. Interface (Botucatu). 2021; 25(Supl. 1): e200203

https://doi.org/10.1590/Interface.200203

 

Lindemann, Ivana Loraine et al. Percepção do medo de ser contaminado pelo novo coronavírus. Jornal Brasileiro de Psiquiatria [online]. 2021, v. 70, n. 1 [Acessado 13 Dezembro 2021] , pp. 3-11. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0047-2085000000306>. Epub 31 Mar 2021. ISSN 1982-0208. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000306.

 

Conselho Federal de Enfermagem. Guia de saúde mental pós-pandemia no Brasil. Disponível em: <http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2020/12/Guia-de-saude-mental-pos-pandemia-no-Brasil.pdf>. Acesso em 13 de dezembro de 2021.

 

Saúde mental: pesquisa analisa impacto psicológico do enfrentamento à Covid-19 em profissionais da saúde. Governo do Brasil, 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2020/julho/saude-mental-pesquisa-analisa-impacto-psicologico-do-enfrentamento-a-covid-19-em-profissionais-da-saude>. Acesso em: 13 de dezembro de 2021.